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sexta-feira, 28 de novembro de 2014

O anjo pornográfico

A vida de Nelson Rodrigues. A cada biografia que leio escrita por Ruy Castro me convenço mais de que ele é um dos melhores biógrafos do país. Este é o tipo de livro que você não consegue parar. Claro que seu personagem principal é digno de uma história eletrizante, mas a forma como o autor conta essa história é o ponto-chave.

Conhecemos por este livro o Nelson-homem, com uma vida marcada por tantas tragédias quanto não seria possível alguém sobreviver. Seus pais produziram catorze filhos geniais, uns mais outros menos, uns mais artísticos, outros mais empreendedores, como é o caso de Mario Filho, o idealizador do que hoje é a paixão nacional: o futebol. Aliás, a vida dos irmãos Mario Filho e Roberto Rodrigues produziriam um livro à parte.

Ruy Castro trouxe à tona uma vida espetacular, de um homem singular, talvez dos mais singulares filhos deste nosso país. É ler e conferir, depois me contem.

Algumas pérolas do mestre da escrita:

"Nelson, passional como uma viúva italiana, achava aquilo um empobrecimento da notícia e passou a considerar os 'copy-desks' os 'idiotas da objetividade'. 'Se o copy-desk já existisse naquele tempo', dizia, 'os Dez Mandamentos teriam sido reduzidos a cinco.'"

Sobre A vida como ela é:
"- Seu Nelson, não deixo minha noiva ler sua seção!
Nelson caiu das nuvens:
- Mas por que, que piada é essa?
- Porque suas heroínas dão mau exemplo.
Nelson respondeu por escrito, na mesma época, em outra parte do jornal:
- Discordo desse ideal de noiva cega, surda e muda diante da vida. Acho que uma moça só deve ser esposa quando está em condições de resistir aos maus exemplos. Considero monstruosa, ou inexistente, a virtude que se baseia pura e simplesmente na ignorância do mal. Cada mulher devia ter um minucioso conhecimento teórico do bem e do mal. Afinal de contas, a virtude é, acima de tudo, opção."

"'Me interessa a pessoa em particular', sempre disse Nelson, 'A História que vá para o diabo que a carregue, e Marx, que vá tomar banho.'"

Sobre a amizade de Nelson e Hélio Pellegrino:

"Os dois sempre tiveram divergências políticas e, na maior parte daqueles anos, isso nunca lhes toldou a amizade. Hélio era um frenético socialista católico, o que Nelson considerava um dilema porque, na sua visão, era impossível ser socialista e católico. E Hélio entendia que o reacionarismo de Nelson era apenas a unção do indivíduo sobre a coletividade. Hélio podia não concordar, mas achava graça na frase de Nelson: 'A massa só serve para parir os gênios. Depois que os pariu, volta a babar na gravata.'"

"E então, senti que a multidão não só é desumana, como desumaniza."

Obrigada, Ruy Castro, por existir.

Autor: CASTRO, RUY
Editora: COMPANHIA DAS LETRAS
Assunto: Biografias - Teatro

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